Banzo

Já que sinto a dor arder com fome
Rondar-me a caiçara com uma sanha assassina
Onça que vagueia atrás da caça
Cheira os socavões, tão fascenina
Como eu quando sinto o teu perfume de menina

Já que sinto o debandar da noite
Aves de arribação que criam a mistica hora
Mariposa ardente sobre a chama
Chama fria a arder, mas que ignora
Pombas vem em guerra e brancas vão tecendo a aurora

Ai! Se até o ai que grito é no silêncio
Que evola e que tremula ao vai e vem da rede
Esta sede da doçura do teu mel
Ai! Se o lombo da formiga é um tapete imenso
Onde me deito e encaracolo com um punhal no ventre
Que inferno é esta terra sem teu céu!

Já que sinto a dor arder insana
Fogo sem rasão mais quente que do sol a testa
Onça vagando atrás da caça
Sua compenetração não se molesta
Eu buscando a lei
Mas só pensando o que não presta

Já que sinto desabar a noite
Arde a escuridão num desespero sem remédio
Mesmo sua agonia é tédio
A pira que a consome me ilumina
Ronda a onça da dor
Com teu perfume de menina

Ai! Mas esse ai morre nos lábios
Um desejo fauciforme que me parte ao meio
Eu buscando o teu seio sem perdão
Ai! Dor funda e gutural que além de tudo eu quero
Sinto a alma diluir a beira do teu toque
Tua pele é o sonho da minha mão!

Já que sinto vir a mim a morte
A dor ardendo insana e a saudade dardejando
Pouco importa perder tudo te salvando
Pouco importa me perder se não te esqueço
Se um beijo custa a vida, dê- me dois e aumente o preço!

Claudinei Soares

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