Vai passando o tempo e vamos aprendendo

Vai passando o tempo e vamos aprendendo
Uma palavra amiga vale muita coisa
A mão no ombro, o estar com o outro
Em pensamento que seja.
Isso tem valor.

Vai passando a vida e as belezas vão mudando
Passa a valer mais o apoio do amigo
O abraço do irmão
A namorada que é companheira
Vale mais que o troféu de ostentação
Amigos valem menos que família
(Os amigos de verdade já se tornaram família).

As estações mudam sempre
Você também precisa mudar
Deixar as coisas de criança para trás
Abraçar o filho
E com ele a sina de ser pai
As estações mudam sempre
Você precisa arrumar o telhado
E entender que a casa é sua
É sua gente ali em redor do fogo
O barco já rodou muito
É pelo porto que gemem as velhas cordas
O pão é para dividir
Partilhando o pão e a vida
Toda a janta é uma eucaristia entre a família
As estações mudam sempre
Você também precisa mudar.

Vai passando o tempo e vamos aprendendo
Que palavras não são nada.
Que promessas não são nada
Nem alianças nem juras
Mas o tempo passado junto
Sofrido e suado junto
Cantado e brigado junto
Esse tempo dá saudade.
A vida parece mais bonita
Agora que o tempo passou
Envelheci uns vinte anos
De anteontem pra agora.

Vai passando o tempo e vamos aprendendo
As estações mudam sempre.
Só o amor permanece o mesmo
E o amor não escreve novelas
O amor não posa para retratos
O amor tem os olhos cansados
E mãos rudes de duros trabalhos
O amor não tem
Mas tem que ter para dar.
Todo o resto é panfleto.
O amor é a voz serena
Após o tornado de areia.
Eu envelheci vinte anos
Estou pronto talvez para amar.

Eu gostaria que alguém pudesse me consertar
As coisas não são como eu vejo
E os olhos míopes do desejo
A lascívia de viver
Me levam de tropeço em tropeço
Só com as marcas dos males
Que pressinto e que padeco
É que consigo me orientar

Então sei que vou me ferir
E que o sorriso vago já será desfeito
O amor pueril que pousa já voará do peito
É isso? Esse é o destino? Eu me recuso!
Eu dizia, farto de chorar
Agora seco, exausto do porvir
Somente a alma murmura divergir
A boca a trai e diz:
É isso? Este é o destino?  Eu aceito!

Eu vi no mundo tanta coisa mais
Vi tanto pão, tanta festa e fartura
Vi tanta luz, bondade e candura
Vi leis decentes, verdadeira paz

Vi em você tanta coisa... tanta
Que ao contemplar o teu amplexo frio
Vi um oceano árido, vazio
Rude à esfacelar a delicadeza Santa
De quem te queria o mais rico mar

Vi... porque cego, porque desvairado
Acreditei no que absorvi
Dei tal valor à tudo o que senti
O que era visto
Tinha de ser amado

O que era sonhado
Se sonho fosse
Tão mais perfeito era, e tão doce
Que não o podia mais abandonar

Não há protesto algum na minha boca
Caí ao solo após a fuga louca
vazia a voz, o gesto, o olhar
Vergonha minha
Tão triste, tão feia
Uma sombra de anseio talvez
-minhalma titubeia
"Eu queria que alguém
Pudesse me consertar".


Claudinei Soares

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