Bramindo feito fera
Suas patas silenciosas
À volta sempre perto
E quando os raios revelam
As pinceladas das nuvens
No quadro da tempestade
Eu sei o que é esta pulsão:
Eu desejo estar só.
Desejo as paredes vazias
E seu discurso melancólico
E as ausências todas
Das manhãs, tardes e noites
Desejo me ouvir
Falando de novo comigo
Sem ser nunca interrompido
Eu desejo estar só.
Eu não quero mais você
Eu não quero mais ninguém
Sonhos e idéias alheias
Me enfadam e irritam
Não quero opiniões
Nem as últimas notícias
Nem os gols da rodada
Nem as marcas badaladas
Quero morrer
E esquecer
Quero ser esquecido
Como se tivesse morrido.
Quero estar só
Para lembrar de mim.
Quero estar só
Porque me desconheço
Quero estar só
E relembrar meu nome
Meu lugar, minha fome
Meu endereço.
Claudinei Soares
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