De Portas Abertas

Arte Tama66
Havia uma casa no cimo de um outeiro.
Ela notou a singeleza daquela construção e se aproximou.
Encontrou a porta cerrada, porém...
Pensou em desistir, voltar para trás,
Mas sobre o chão verde e sob o teto azul,
Circulou aquela choupana e viu uma janela entreaberta.
Chegando perto, a luz de seus olhos invadiu um pequeno recinto
E iluminou-o de dentro pra fora e vice-versa.
Viu que entre estátuas de bronze e grandes estantes de madeira e aço,
Em um dos cantos, havia um menino sentado e sozinho
Que parecia brincar dando vida aos seus próprios dedos.
Ela sorriu ao ver aquela idílica imagem
E, como um espelho, ele sorriu de volta.
Pensou em entrar para falar com aquele ser
E circundando mais uma vez o casebre
Encontrou aberto um acesso para o quintal dos fundos.
Quando por ele adentrou, sentiu-se uma intrusa.
Estranhou aquele ambiente escuro e teve que tatear seus passos,
Mas as luzes se acendiam a medida que caminhava e sentiu-se uma convidada.
Andou por longos corredores daquela moradia e não viu o que esperava ver...
Esperava ver cômodos com mobília decorada ao invés de vazios;
Esperava ver fotos e quadros colorindo as paredes ao invés de nuas;
E esperava ver aquele menino, mas não o viu...
Contudo, ele estava lá, bem ao seu lado,
De olhos fixos para ela, imaginando o porquê. entre tantos e tantos lares,
Aquela criatura tão iluminada quanto um anjo foi entrar ali no seu refúgio.
Então, julgando que a vivenda jazia vazia, ela saiu pelo mesmo lugar que entrou.
Se ela tivesse ficado mais um segundo que fosse,
Teria encontrado nos cômodos mobília vasta que por ele decorou,
Teria visto nas paredes fotos tiradas e quadros pintados que por ele pendurou,
E teria visto então o menino que ora ficara assustado com repentina aparição.
No entanto, ao afastar-se, voltou rapidamente seus olhos
Para admirar uma última vez aquela casa
E achou que por um momento a passagem estava aberta.
Mas enganou-se ao vê-la clausurada e deixou uma despedida em forma de água e sal.
Se ela tivesse voltado por um segundo que fosse,
Ao puxar a maçaneta, saberia que o ádito apesar de fechado não estava trancado.
O menino o deixava assim porque temia que suas sombras escapassem
Daquela penitência e turvassem os dias azuis, secassem as paisagens verdes.
Talvez se ela abrisse a porta e mostrasse que, mesmo que suas sombras fujam,
Sua luz, a luz própria do menino e a luz dos sóis das manhãs
Colocariam tais espectros no lugar a que pertencem.
Mas esse dia há de chegar.
O menino sonhou.
Sonhou que ela voltaria pelo mesmo caminho que chegou.
E já sabido da visita, ele a receberia de portas abertas
Com mobília para abraçá-la aconchegantemente
E paredes para pendurar o que se passou e o que se passará.


Adams Damas

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