Rua

Arte de Stock Snap
Rua aí
Rua afora
Trilho incongruente entre coisas consolidadas
As lojas dos outros
As casas dos outros
Os botequins
Democraticamente abertos na proporção direta dos seus haveres
Na rua há muitos saberes
Na rua há muitos poderes
Na rua tem as gostosas
E ali são só gostosas
Não tem saber se são chatas
Se são rusguentas, mesquinhas
Contadoras de moedas ou ciumentas
Gastadeiras ruins de cama
São apenas umas pernas
Umas bundas, umas bocas
Pensando bem, elas são só isso
O tempo todo.
Rua aí
Das nossas esquizofrenias
Das nossas taras vazias
Nem sempre acidentais
Quase nunca- além do mais
Na rua quem liga?
Na rua quem pára?
Na rua quem fica?
Eh moleque, sai da rua!
Engraçado, engraçado
Esfria o café, esquenta a cerveja
Amanhece o dia, anoitece a tarde
Sai da rua, menino
Quem fica na rua
É marginal
Quem fica na rua é lixo
Quem fica na rua é ninguém
E ela vai esvaziando
No fim estou eu,
Mais um cara,
Uma mendiga louca
Invectivando o vento.
Mas o mundo inteiro é uma rua
E a gente toda é ninguém.
Ouviram?
Ouviram o cacete
Em seus quartos quentinhos
Assistindo a bosta do jornal Nacional.

Claudinei Soares

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