É pra lembrar

É para me lembrar que sou homem
A grata presença tua
é pra lembrar que ainda posso
Cantar uma copla esquecida
É para saber novamente
Que há uma voz nessa boca
Que há uma canção nesse peito
E a espera da morte ainda é vida?

É para lembrar que sei versos
E pintar as cores do acaso
É para lembrar as feridas
Visitar o palácio de entulho
De minhas frustradas paixões
É pra lembrar que -carvão
Com um sopro ainda me abraso
E que ainda me resta a história
E há uma voz nessa boca
E há uma voz nessa boca
E mesmo cansada e sem treino
Ainda é motivo de orgulho?

É pra lembrar que as cadeiras
Ainda em duplicata
Esperam que haja outra alma
A grata presença tua?
É pra lembrar que meus olhos
Agora tão regulados
já viram despudorados
as matas, o mar e a lua?

É pra lembrar o vôo
De um peito esperançoso
É pra esquecer a dor
Da velha asa quebrada
É pra esquecer os caprichos
Do céu que eleva e derruba
E lembrar que quem não sofre a queda
De altura nunca soube nada?

É pra lembrar que sou homem
Nesta solitude imensa
Que trago uma canção no peito
A tua grata presença?


Claudinei Soares

Postar um comentário

0 Comentários