Não saberia dizer

Não saberia dizer
De um jeito que fosse expressar
Completamente o que senti
Mas acho que quase morri
Senti meu ser se diluir
Na dor insana e vi partir
As fibras de mim mesmo
Como cordas que de tensas
Se rompessem num acorde de última agonia

Não poderia perceber
Mesmo que quisesse notar
Para mim mil anos se passaram
Nesses segundos que acabaram
De ficar em um suspiro para trás

Como posso ainda viver
Tendo sentido uma coisa assim?
Boa pergunta- e triste é constatar
Que se morrer, a causa ainda é

Como posso não chorar?
Cauterizei - enlouqueci, talvez?
Ou talvez cale meus anseios insondáveis
Na imensidão da minha estupidez

Não poderia esquecer
Sem junto olvidar tudo
Mesmo os movimentos peristálticos
As rugas que marcam minha face
A barba que teima no rosto
E lembra sempre a maciez do teu

E a dor me consumindo
Enquando a vida te ilumina mais
E mais seu ser avança em luz
Sendo pra mim o fim do show
E eu sinto-me escorrer em portas
Mortas que são novas vidas
Entradas que são só saídas
Olás para te dizer adeus

E não! Deixe a dor lacerar
Estraçalhar, ferir o que quiser
Que estique a alma até o limite
Que nada mais tenha um porquê
Não, que eu nunca veja a paz
Que a dor não passe -que aumente se puder
A guardarei sim - acredite
Porque ela é o que me resta de você.


Claudinei Soares

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