Dois olhos inexistentes
Imaginarias correntes
Pela face ressequida
Escorrem de uma ferida
Em cada órbita ardente
Soluça quieta e descrente
A máscara exaurida
E ainda se agarra á vida
Que a despreza friamente
Por trás da pátina crua
Que pensamento volteia
Que voz muda serpenteia
Dragão de sombras pela lua
Que passos-se houvesse rua
Que cantos-canção houvesse?
Mas a noite não amanhece
O sol jamais se insinua
E a excruciante dor que é sua
No amainar recrudesce
Nada viu o esgar parado
Tateando cegamente
Chamou de árvore a semente
De mar um riacho eivado
Como jamais esperado
O amor reconhece e chama
E sem ter coração ama
A alma rota e penada
Pisou no fio de uma espada
O mar sonhou entre a lama
Recôndita gárgula muda
Sonhando um reino de seu
Até as vestes perdeu
Silente cega e desnuda
Não vê sobre a pedra cruda
Que ali carinho não existe
Enxerto falho caíste
Irmão de Epimeteu
Pensou ser mundo-era sombra
Pensou ser outro-era eu!
Claudinei Soares
Claudinei Soares
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