É o transmissor da doença pública
Que com sua face lúbrica
Corrompe a criança púbere
Mas veste de Santo a túnica
A toga de magistrado
Negra da pele arrancada
De hostes de gente punida
Pela lei e pela vida
Quando a cadeia é uma estação
Na via sacra entre o trabalho
Escorchante com salários de fome
Noite e dia de operário sem nome
Ou ser patrão com o nome no Datena
A desgraça transmitida de antena em antena
Até a prisão preventiva de uma justiça falida
É o vendedor de maldição passando na sua rua
Eu vendo a miséria
Ao preço da esperança
Eu peso tuas misérias e no fiel da balança
Eu te convenço que quem te pisa tem direito régio
Te faço beijar diploma e apoiar privilégio
É meu sortilégio
Por percevejos na tua cama
Te faço desfilar pelo prazer do drama
Te faço ficar nu para aliviar meu tédio
Te confino mum barraco
E te faço financiar meu prédio
Você acorda cedo em meio ao abandono
Vaga como gado
Tenso é subjugado
Faz meu café fresco e embala meu sono.
É o vendedor de maldição passando na sua rua
Tenho droga
Tenho treva
Telenovela
Tenho Rock
Tenho pop
Tenho funk
Tenho Gospel
Tenho raiva
Tenho amor
Tenho memes
Tenho luz
Te excito e te relaxo
Te exalto e te esculacho
Eu vendo Deus
Eu vendo o Diabo
Eu ponho os dois no octógono
Eu corrompo o decalogo
Eu pinto um céu escatológico
Escolha o seu barato
Porque aqui é fino trato
É o vendedor de maldição passando na sua timeline
No seu insta
Na sua mente
Por baixo da sua cama
Compro suas preces
Amortizo seus pecados
Escondo nos meus guardados
A sua moral moribunda
E trago sempre de volta
Ligeira a sexta-feira
Não morra mexendo a cabeça
Passe a vida mexendo a bunda.
É o vendedor de maldição passando
Com o tempo e o bonde da história
Apagando atrocidades com tinta cinza
Erigindo a cidade linda
De uma falsa memória
Eu vendo um céu no pós morte
Mas fico com a sua vida
Com seu dinheiro suado
Com seu carro parcelado
E sua razão poida
Eu negocio sua sorte
Num jogo para seu azar
E te espero protestar
Te levo até a loucura
Eu sou maior e mais safo
Mais craque do que você pensa
Eu vendo a uns a doença
A outros eu vendo a cura.
Nenhuma das duas perdura.
Chore que te vendo um lenço
Não adianta ficar assim
Eu não te obriguei a nada
Você quis comprar de mim.
Claudinei Soares
Claudinei Soares
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