Talvez seja cansaço

Arte de Shurda
Talvez seja cansaço
só isso, cansaço
uma fadiga insistente e incontível
me lançando de joelhos ao chão
Mais desesperançado e sem Deus
que se a orar me dispusesse
Talvez fosse, se existisse
uma ânsia inconfessável
mas não... Cansaço
Cansaço de ser e de estar
da multidimensionalidade
de ser viver e pensar
de crer, perder e penar
cansaço último e indelével
impermeável a sofismas
Cansaço de cada respirar
de cada sístole e diástole
cansaço por cada sinapse
cada fácea, cada contratura
cada ato e cada pensamento
sendo você a única excessão
Justo você a única excessão

Talvez seja isso... Talvez
quem sou eu para saber ao certo
Não sou o dono da vida
Não governo a causalidade
Dejoelhos baixo a cabeça
de mim mesmo ouço a sentença
e deixo escorrer sobre os sonhos
uma chuva de chamas
e dos meus olhos caem
lágrimas tão frias
tão patéticas e tão sincrônicas
numa coreografia de soluços
a garganta selada guarda o segredo
os lábios contraidos se perpetuam
numa silabação muda do seu nome
num estertor de derrota
deixo tua lembrança arder
e incendiar minha alma
reduzindo a esperança à cinzas
Chovem chamas
Chamas pantagruélicas, chamas dantescas
Como que lançadas pela mais crua das iras
do mais incompreensível dos deuses
mas fora de mim o que se vê
é o pranto patético
a dor indizível
seu nome incomunicável
Arde em silêncio
Arde
Em
Silêncio.


Claudinei Soares

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