Transeuntes

O homem que vende bolo
De laranja e milho verde
Também vende pão de queijo
Na frente do HC.
Hoje eu não tenho jejum
Hoje eu gosto desse homem.
Seis e pouco ele e o filho
Vendem tudo à paulistana:
Tó o produto - dá o dinheiro
Um é dois, três é seis
E não faço por cinco não
O pregão é um mantra eterno
Cafeéeeee com leeeite pãodequeijo
E os olhos no céu para a chuva
Olhos na rua. Pro rapa
Vendem tudo à paulistana
Fazem tudo à brasileira:
Um café, uma piada
Um café, um bolo, um provérbio
Um pão de queijo e um elogio
Outro café e uma carreira
O menino ajuda o pai
Desde os quatro anos de vida
E dá conta das cobranças
Para escapar com os trocados
Bate palmas ao ritmo de funk
Ajeita o tabuleiro
Apregoa e canta baixinho
"Senhor, perdoai meus pecados"
Adianta a moeda, meu povo.

Je suis Robson 8808
(Está escrito na garrafa térmica)
"Senhor, perdoai meus pecados"
Daqui à pouco chegam os legionários
Prendendo mascates e roubando comida
Uma repórter a dois passos da cena 
tira fotos com os garis.

Je suis Anderson 8808
Vende bolos e esperanças
"Meu menino é trabalhador
E assim ele vai longe"
Os legionários não acham.
E esse menino? - Indagam.
Boa pergunta, polícia
Boa pergunta, repórter
Boa pergunta, São Paulo.

Je suis
"Eu ensino o que sei ao meu filho
Ele é o que vai viver de mim mesmo"
Je suis
"Tenha respeito aos médicos
E fé em Deus que a cura vem"
Jê suis
"Solteira e triste? Bonita assim não fica os dois por muito tempo. Ou a tristeza ou a solteirice acabam logo"
Je suis
"Poeta? Poeta é todo o homem..."
Je suis
"Amanhã é Deus que sabe"
Je suis
Anderson 8808
Dono
D
E
S
T
A
Garrafa
Que a polícia vai levando embora.


Claudinei Soares

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