Unabomber

Você acha graça por enquanto.
Depois vai ser outro papo.
Vai sentar na calçada, vai olhar para o lado
igual um realejo de solilóquios.
Todo mundo chora quando a onda chega.
Quando a onda chega, nunca na hora certa.

Nunca quando o aleijado cai
(nesta hora todo mundo trinca de rir)
Nunca quando a supermodelo no auge
exibe o primeiro pico no braço...

Você está achando tolice agora
Depois... Depois vai ser o junta-junta dos cacos.
Depois vai ser o comovente pranto do pós-atentado
máscaras de quero paz em faces rechonchudas
do lucro da guerra, este carnaval de falsas vítimas.

Ah é...
Porque naturalmente não se observa o fraco
até que sua raiva molda um estilete
e o forte se afoga em molho de salada
com um gelo na nuca em pleno jantar...
Não sei bem se isso cria bolcheviques
sei que isso cria uma sombra surda
uma raiva muda, uma indignação cocha
Para as quais não falta esmola neste mundo:
humilhação é moeda corrente!

Você vai dizer: bravatas! Agora
Porque o amanhã talvez te roube a boca
Ou as palavras caiam delas aos tombos
feito pára-quedistas sem para-quedas
estalando no chão como cristais da Boêmia
- noutras palavras, como um vidro patético:
Crash!!!

Ah, sim... Como não?
Pois quem me toma o presente
pois quem me rouba a memória
Não é para mim mais que lixo
Para mim é tudo uma escória
Para mim é tudo igual:
Você pode falar isso aos repórteres
quando as coisas mudarem
quando eles perguntarem
porque eu me tornei mau.

Claudinei Soares

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