A urbe adormecendo

A urbe adormecendo
Reluto em vigiar
Tentado à dormir
O céu não está dizendo
Que nada vai voltar
Mas que eu vou partir

O vidro estampado
Colado frente à mim
À murros coroados
De louros carmesim

E tanto faz o antes
Se está lançada a sorte
A nau dos inconstantes
Segue por onde vai
O vento mais forte.

Cordas vibrando cantam
De saudade
Meus dedos em verdade
Cantam também
Bailando sobre a escala
Têm vontade
De bailar sobre a face
De um certo alguém

A voz vem á garganta
E silencia
Amálgama- poesia
Perpassar
E o gesto se decanta
Na brisa fria
Vaga em som condensado
Pelo ar...

Nos braços, tristemente
A guitarra
Languidamente entregue
Ao trovador
Dedos bailam suaves
Mas a garra
Da saudade me rasga
Num cruel lavor.

E o som verbera ao vento
Com falsa vida
Parece alma esquecida
Do além
Dos socavões não acha
Jamais saída
Canta para os ouvidos
De ninguém!
Você esperava o quê de mim?
Acho que sempre erro na escolha que faço
E de êrro em êrro acertei meu caminho.
Meu caminho certo é estar sempre errado.

E você esperando... O quê?
Vazio de sempre preenche o espaço
Entre um verso e outro, um e outro carinho
Se esqueceu de em meu colo ter descansado?

Veja: o problema é que eu estou certo.
E estando certo já não pode ser
Que esteja certo no que escolher

Que ao me deitar possa dormir em paz

A solução é prosseguir deserto
Conquanto incerto, impróprio é o florescer
E só o que é errante pode enfim viver

Certo é que devo errar um pouco mais.

Claudinei Soares

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