Por um tempo
Você foi meu templo,
Um refúgio
Guardado para mim.
Eu, que vivia
Numa natureza morta,
Ganhei vida, vigor e audácia
Ao seu lado.
Você nunca foi opção.
Desde o começo
Sabia até onde chegaria.
Você não foi ilusão,
Tampouco utopia.
Foi real, abrasador e profundo.
Sagrado e profano.
Sentia você em minhas entranhas.
Agarrei-me a ti.
Sempre era a última vez.
Eu esperava pelo último encontro.
E de repente tinha próxima vez. Não foi um amor decadente.
Não acabou quando terminou.
Eu ouvia seus pensamentos a me chamar todo momento.
Eu apenas o deixava ser.
E ficávamos num mundo à parte de fantasia.
Não existia começo, meio, fim.
Era tudo intensidade,
Quando você entrava em mim.
Eu também o levava
A paraísos abissais.
Ora, estávamos entre nuvens,
Ora, tudo era abismo sem fim.
Longe de ti,
Eu caminhava no fio da navalha.
Várias vezes vacilei.
Meu coração foi suturado.
Saturado de desejos torpes.
E não houve nada que você pudesse fazer.
Eu também era fuga para você.
Um lugar de beleza e natureza viva,
Onde apenas comportava ser e sentir.
Eu era a morfina para sua dor.
Tu eras minha estricnina.
Foi por pouco!
Quase afundei em águas oceânicas do meu inconsciente.
E na iminente possibilidade de morte,
A pulsão de vida me levou à tona.
Você foi um delírio bom,
Que quase custou minha paz.
Caso não rompesse esse laço,
O transformaria numa corda,
Num destino sem volta.
Você dizia que eu ocupava uma grande parte do seu coração, mas você quase arrancou o meu, à prêmio, e serviu numa bandeja aos corvos.
Isto era o mínimo dano,
Afinal, pior teria sido a morte por afogamento em lágrimas, tristeza e dor,
Em troca de alguns momentos de prazeres suicídas,
Que você oferecia para mim.
Você era meu espelho,
A refletir minha face obscura,
Proibida, sórdida, sacana.
O lado irresponsável
Do prazer imediato,
Quando pulsava dentro de mim.
Semelhante atrai semelhante, e você foi meu efeito sombra e eu sua luminosidade. Como dissestes, eu o fazia ser alguém melhor. Entretanto, sequer conheci seu pior, porque eu só via flores e perfume em ti.
Talvez você tenha sido a doença em mim,
Um vírus recorrente, difícil de matar,
Quando abria minhas defesas.
Eu não tenho certeza se estou curada,
Senão nao brincaria com fogo.
Eu corro risco tolos,
Em troca de prazeres urgentes.
É uma desgraça carregar esse estigma de gostar do proibido e burlar as regras.
A verdade é uma só: eu não tenho vergonha na cara!
Eu gosto de sentir prazer pelo corpo, além da alma. Esse meu jeito me levou à riscos.
Abri a caixa de Pandora e foi difícil encaixotar tudo novamente.
Eu sou a típica neurose em vida, daquela que se constitui de vazios e desejos inalcançáveis.
Eu não acredito em remissão.
tampouco exista salvação para minhas escolhas erradas.
Sou carga viva carregada de prazer e sina no coração de um homem desonrado.
Carmen Dell Roza

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