Esperanças


Arte de Pavlofox
É...
Esperanças são coisas descartáveis.
Você nutre, você cultiva, você torce... Mas é algo que você abandona. E porquê? Porque esperanças são como nuvens, e não se sabe nunca se vai mesmo chover, mesmo com o vento e os trovões sobre as nossas cabeças.
Esperanças são frutos da árvore da incógnita, exalando um aroma de expectativa misturado a outro-de incerteza...
Então, é isso aí. Me sinto como quem desceu do ônibus na metade do caminho numa noite fria e vazia à beira de uma estrada desconhecida. Tudo é uma droga, mas ajeito a mochila e sigo adiante. Esperança não é tudo o que conta: para aqueles que tem a coragem de enfrentar a vida de cara limpa, sobra algo ainda em que se apegar. A teimosia, talvez, sabe-se lá. O fato é que prossigo, como uns, como outros, sem a esperança. Não é um peso a menos... Nem um a mais. O problema com a esperança é essa mania que ela tem de ser nossa, de crescer em nós, de distorcer nossa percepção. O resultado quando não vem nada? Não acontece nada? Esse aí.
Alguns desabam, outros prosseguem. Esperanças são fadas açucaradas, é uma judiação vê-las morrer... Esperanças podem ser tolas, mas são sempre lindas. Então, vou andando. Com a alma triste e o coração inundado da beleza de uma esperança que deixo sobre o asfalto, agonizando para morrer. Uma esperança minha...
Vou caminhando... A brisa traz uma solidão transeunte, uma tristeza andarilha... O que é mais triste sobre esperanças? Algumas são como anjos... Rondam algumas pessoas, procuram com mãos intangíveis levar à algum rosto amado uma carícia nossa... Mas no mais das vezes estes anjos não são vistos. São rasgados, pisados, agonizam e morrem.
Claudinei Soares