Chuva

Toque chuva, esta canção serena
Na harpa ondulada do telhado
E que cante minha alma morena
Tudo o que convém cantar calado

Se o crepúsculo me alcança imberbe
Como a noite que atravesso insone
Impudente a alma persegue
Notas túrgidas de estranho nome

Velam virginais vates -vetustos-
Versos viscerais vertem vergadas
Valsam vórtices vãos de veludo
Velando vergéis de verdes vagas

Saltam soltas gotas cristalinas
Fasceninas pueris ignotas
Na elegia notas fluidas, finas
Mais emitirão quanto mais rôtas

Pela rama que no sobe-desce
Se apequena e logo se avoluma
Coração esmeralda que palpita
Por mil forças - ou força nenhuma

Toque, chuva esta canção serena
Na harpa ondulada do telhado
E que cante minha alma morena
Tudo o que convem cantar calado

Quando o mar à terra se inguala?
Quando busco diamante ou ilha
Que teor tem sua voz ou fala
Seu olhar - quando olha - o quanto brilha?

Pedirei a fortuna do exîlio
Buscarei numes no azar da sorte
Sorver vida nos lábios da amada
Que se sonha amar até a morte?

Vira o sangue no vargêdo em vida
Vida vira no peito a cantiga
Agua que nasce no olhar de moça
É de sêde que água não mitiga

Vai virar em nada minha carne
Como o ar que exalo se esfumaça
Passa o sofrer e as fadigas
Se a vontade de amar não passa

Toque então, chuva, canção serena
Na harpa ondulada do telhado
Não me falta para dormir cansaço
Mas bem posso sonhar acordado


Toque, chuva esta canção serena
Na harpa ondulada do momento
E que leve tua voz e a minha
Muda idéia, e mudo sentimento!


Claudinei Soares

Postar um comentário

0 Comentários