Arte Gimono |
Quando está morrendo?
Isso, aquela percepção
De que a areia do seu ser
Está vazando,
Que se tua alma fosse água
Estaria escoando
Ralo abaixo.
Sem enfeite
Ralo abaixo - ralo escuro, ralo velho
Ralo sujo e esquecido
Mais até que o esquecimento.
Sabe o estremecimento
Do primeiro pecado?
Sabe aquela rebordosa
Aquele ardume comichão
De ver o primeiro seio
Numa fresta de decote
Num instante de descuido
Da amiga da sua mãe?
{pecadilho de infância, veja bem}
Sabe aquela pontada gelada
Na boca do seu estômago
Segundos antes do soco
Do valentão te acertar a cara?
Sabe a náusea incapacitante
De estar do lado da arma
Por onde a bala sai,
Recebendo voz de assalto,
Sabe quando a corda arrebenta
E você começa a cair?
Eu sinto tudo isso junto
E fosse só isso, moça
E eu estaria tranquilo
Sabe aquele negócio maldito
Pelo qual os homens matam
Um fogo que os leva ao sonho
De pilhar o mundo inteiro?
Sabe, moça, eu bem queria
Ter ambição tão mesquinha...
Mas acho que quero algo
Quem nenhum rei desse mundo
Possui entre os seus guardados.
É algo que nenhum sábio
Produz com seus alfarrábios.
Menina, eu queria te ver
Sabendo do que é que falo.
Claudinei Soares
0 Comentários