Alô, alô

Alô, alô
Me atenda aí
Conte os minutos
Que perdi
Conte as angústias
E as comédias
Que não ri
Os abraços que não te dei
E o que eu não sei
Pois prescindi

Alô, alô
Você talvez 
não cante mais
Não fale dos mundos astrais
Ficou normal talvez
Lidando com contas reais
Vai ver vendeu o violão
E os pincéis, e os manuais
E deletou as nossas fotos
E jogou fora os florais

Alô, alô
O que ficou?
Seu corpo, diga, o que mudou?
Ainda fica na cama
À fingir que não acordou?
Ainda morde de brincadeira,
Sonha a lareira, ou já comprou
Já viajou para Katmandu
Ou esse sonho desgastou?

Fale com essa boca
Onde beijos meus
Pousaram feito andorinhas
Num tufão
Ria este riso 
Que já me iluminou
Sua voz vibrando o peito
Onde eu já guardei meu coração.

Conte este mundo onde vivi
Ele, depois que eu parti
As ruas, flores, carros
Eles -ou eu descolori?
A chuva caiu sobre mim
O sol nasceu e amanheci

Olhe com esses olhos
Onde eu já me vi
Entre anjos invisíveis
Que eram paz
Coisas impossíveis
Insensatas de amar
Tão infantilmente
Como para sempre
Como nunca mais.

Claudinei Soares

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