Fiz pra pagar o que devia

Fiz pra pagar o que devia
Deus é grande e hoje em dia
Jogue suas mãos pro céu
Devo bem mais do que produzo
Eu de quando em vez deduzo
Que meu pensar obtuso
Chega à vislumbrar a real.
Sinto falta dos amigos
Os novos e os antigos
Não consigo passear
Não curto um pôr de sol direito
Durmo e acordo contrafeito
Tudo é sem muito atinar
Todos no poder me exploram
Me achincalham e ignoram
Nem sei bem o que falar
Vai seguindo a roda viva
Indignação seletiva
Cada qual no seu lugar

Deixa eu sair, pra ir além
Vou encontrar no mal que tem
Meu quinhão de bem

Queria estar numa varanda
À brincar uma ciranda
Com os filhos que não gerei
Com alguém que já foi embora
Mas saio de porta afora
Com a tristeza que adotei
Não reclamo de estar vivo
Pego outro coletivo
Chego à outra estação
A pergunta é irrelevante
Se a resposta é uma constante
Uma eterna negação
Deixa eu sair mais cedo hoje
Deixa eu respirar lá fora
Deixa eu pensar talvez
O obscuro está tão claro
E o que no mundo reparo
Não repara a insensatez

Deixa eu sair que eu terminei
Vou procurar no que encontrei
Algo que nem sei

Claudinei Soares

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