Saudade

Arte de Coco Parisiense
Saudade
De ficar de bobeira
Na sombra da árvore
No colo da menina

Vendo as nuvens fazendo
O que elas fazem
Cabeça pousada nas pernas
Macias
Dedos céleres nos meus cabelos

Sol torrando
Água contando mentiras
Numa bica ali perto
Pop rock meio longe
No som do carro
Vento fazendo fiapo
De sapé dançar.

Sem filosofia
Sem pressa
Sem medo
Sem tudo isso de agora
Vamos nadar?
Vamos
Vamos rolar
Na barranca e cair no lodaçal
E esse beijo
Com gosto de jabuticaba?

Meu Deus do céu!

Depois pegar o estradão
Colar na casa da mãe
Comer um arroz com palmito
Contar história de Trancoso
Dormir amontoado na sala
Te ouvir ressonar.

No outro dia jogar bola
(não sou de jogar bola)
Rolar na grama
Ficar com o lombo pinicando
Rir até ficar com dor na bochecha
Depois truco
Depois arrumar o carro (sempre quebra)
Depois desistir de ir embora.


Aí mais papo
Depois ver no céu esses OVNIs
Depois aninhar a menina nos braços
Tomando um suco com bicarbonato
Que a mãe faz...

Saudade disso tudo.
Da casa cheia
Da mesa
Dos risos
Da tontura boa de um gole de cerveja
Da reza na tarde de segunda
Adorei as Almas!
"Escreve a oração de São Jorge
Guarda no borso, meu fio!"
Saudade.

Monjolo no coração
Quebra os caroços das lembranças

Menina com os gambito branco
Crivado de mordida de pernilongo
Dizendo que me quer bem.
Onde agora, menina?
O carro cruza um canto familiar
Parece que vejo tuas mãos branquicelas
Caçando a minha no banco do carro
Mas o carro é outro
O tempo é outro
Eu sou uma massa de cansaço
E ela uma miragem do calor.

A mãe lá não mora mais.
Eu em mim não moro mais.
Onde agora, menina?
Na saudade, esse pouso de tropeiro
Sempre à espera de quem quer chorar.


Claudinei Soares

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