Digo o que sinto

Digo o que sinto
Sem saber ao certo
Se sinto, se sei
Se aquilo que passa
Em meu imo é eterno
Ou antes passageiro
Montanhas ao fim
Se revelam apenas
Nuvens acuadas
Rios que são poças
De chuvas passadas
Deixando a pé seco
As armadas de mim

Digo o que penso
E o que penso calo
Por não confiar
Não ver por inteiro
As redes, as cordas,
Os rumos, os nós
Não posso dizer
Que ao vencer sou eu mesmo
Aquele que vence
Meu rastro no solo
A quem ele pertence?
Minha boca abre e ouço:
De quem é a voz?

Meus olhos no espelho
Alguém lá de dentro
Me olha me acena
Sobra degredada
Que cumpre sua pena
Caído, alquebrado
Amarrado ao ser

Num caleidoscópio
De sombras e luzes
Matizes da vida
Um sonho almejado
Uma prisão temida?
Um jogo maldito
De apenas perder?

Mentiras que sinto
Que sou e que penso
Que falo que existo
Ser - sombra intangível
Haver- o que é isto?
Metáfora tola
Infantil digressão

Pão que cai na boca
E engana a fome
Um breve momento
Mortos são o trigo
E vivos o fermento
Brinquedo do nada
Em forma
Em vão.

Claudinei Soares

Postar um comentário

0 Comentários