Os tempos estão plenos

Os tempos estão plenos
E logo começará
Que ninguém chore agora.

Minha voz nesse deserto
Sofre a solidão dos despertos
Ninguém ergue os olhos

A calamidade no horizonte
Um dilúvio de miséria e sangue

E ninguém ergueu os olhos.

Em verdade verdade vos digo
Não ergueram os olhos
Até que os tiveram arrancados
Pelos seus próprios filhos.

No futuro eu vi
As faces encovadas
As ruas desertas
A fome de liberdade
A sede de justiça
E o pão amargo da mentira
Descer nas bocas enojadas.

Eu vi o que plantaram
E sei o que hão de colher
Os tempos estão plenos
Mas ninguém chore ainda.

Eu vi um Cristo compulsório
E sua hoste de rafeiros
E flibusteiros de toda a sorte
Para roubar, matar e destruir
Ai de nós que fomos enganados
Dormimos livres e acordamos acorrentados
E agora a salvação não virá.


O inferno se pode conhecer em vida
Quando nos tomam os bens mais caros
Que são todos invisíveis
Que são todos de nascença.
Que parecem só palavras
Até surgir a ausência.
Mas ninguém chore ainda.

Choremos
Quando tiver passado o tempo
E nos lembrarmos
Que demos o açoite ao tumbeiro
Para esfolar nossos filhos
E dessangrar nossos velhos.
Nós somos a besta
Seremos... Fomos... Seremos
Pedimos pelo desastre.
Malditos e pobres de nós.

Claudinei Soares

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