A hora de partir

A hora de partir
É aquela que dói antes de chegar
Vai comprimindo sua alma
Eu sei
Você sabe
Todo o mundo sabe.
Dá para notar nas mãos
Nos pés tensos pedalando
A máquina invisível
Da ansiedade
O coração padece entre paredes
Mas eu sei
Você sabe
Todo o mundo sabe.
O café ajuda a acordar do sono
O sol aquece mais que o devido
As horas se arrastam na indecisão
Mas o trem invisível vai chegar
É a vida, o destino
A vontade de Deus ou a nossa
Depende do quão infantil
É o protagonista da história
Se sou eu
Não é nada.
Não é Deus nem Destino
Minha vida desfolhou-se de anjos
A lua cinza meio podre
Dependurada sobre prédios babujados
De chuva ácida
Não há poesia
Há apenas a hora
E as substâncias que unem
E que um dia decaem
Como tudo na droga
De um mundo sem invisibilidades
É só a hora
O duro é que não tenho nada
Para esta ocasião.
Nem roupa
Nem sapatos
Nem relógio
Nem echarpe
Na verdade
Nem um adeus.

A morte
Tem uma cara burocrática
De puta cansada
Por aqui

A vida
Nem dá as caras.

Dizem que aí vem guerra
Coisa dos estates
Coisa dar coreias
Coisas falaciosas
Falsificadas
Mas se for preciso
O sangue jorra
Fazendo pixel pelas telas
Virando tinta nos jornais

Tudo é essa mesma bosta.

Trabalha trabalha
Se endivida paga
Mora com alguém
Trepa com outro alguém
Sonha melhorar
Se fode.

Isso ou pior
Isso ou sei lá
Os estudiosos
Os bem preparados
Os diplomados e suas teses
Isto é o melhor que podem fazer.

Puta que pariu.

Esse mundo apedeuta
Isto é o melhor que podem fazer.

Ônibus
Igreja
Deus onipresente
Finalmente
No insta e no face.
Versículos e palavrões
Falsidade constitucional
Plano de carreira para futuros defuntos
Pau no seu rabo que você merece.

Líderes, a classe mais bajulavel
De abortos viventes
E seus discursos
E as leis -ah as leis
O mundo anseia pelo vômito

E a morte na esquina
Mexe a bunda caida
A vaidade da vida
Deixa a morte corada
Mas se for preciso
Sangue jorrar...

Claudinei Soares

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