Koetzu's blade

Corre noite, quente como abraço sôfrego, 
nuvens rolam grossas escondendo a nudez da terra
Calor, suor, de dorso nu encaro a brisa tépida
escorrendo pelo canto do lábio da escuridade
entre um beijo esfaimado e outro com mil pontos de luz.

Era mato tudo isso. Hoje é cidade
Era rio, hoje é rua
Era bicho. Hoje é homem.
maldição, eu sei o que eu quero.

Nenhum raio: se chover será em silêncio
como quando a morte se esgueirou para a minha cama.
Ela era linda, linda como um poema
Como uma espada de Koetzu, ou uma faca niquelada.
Ela me esganou até que eu vi a vida
O sol determinando as coisas
e eu permaneço calado.

Corre noite, fugindo do que persegue
parece louca, parece mórbida, parece eu
um estilete afiado a centímetros do seu amplexo
faço a volta ao redor transido de prazer com o seu medo
E de perceber seu colo sacrossanto
erijo uma oração ao tempo antes do pecado.

Maldição, eu sei o que eu quero
Predador que espera num golpe certeiro do vento
o cheiro de uma preza que rescende aos delírios
de um paraíso sáfico desenfreado

Vai caçar a preza que te traga a morte?
Vá, lobo em andrajos, que é o melhor que fazes.

Corre noite, manancial de horas
nevoentas, mortas, revoltas e inúteis
vaporosas dos sonhos dos homens inertes
que fagocitam e defecam o pão acerbo da vigília.

Bombshell decadente num palco esgarçado
canta obscenamente para artistas apodrecidos
Anjos ébrios e profetas famintos
que aguardam a esmola na divina sarjeta.

Lugar alto para mim.

Maldição, faço mais por menos 
à cada hora que passa
Não era por menos que um beijo
agora um olhar já me basta

Amor- nele não se confia
quando bem se conhece.
é um escroque, um pilantra.

Claudinei Soares

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